Este blog visa reunir textos e comentários dos alunos da disciplina Sociologia da Ciência e da Técnica, oferecida no segundo semestre de 2010 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSC, sob a coordenação da Profª Tamara Benakouche. A disciplina tem como objetivo analisar a produção da ciência e a inovação tecnológica como elementos centrais para o entendimento da dinâmica social moderna. Nesse sentido, visará o estudo de questões teóricas - colocadas por autores clássicos e contemporâneos - e práticas, postas por processos sócio-políticos mais recentes. Adotando a perspectiva construtivista, procurará desenvolver uma crítica a análises que sustentam a natureza apolítica da pesquisa científica e o determinismo da técnica, resgatando a importância de novas formas de cidadania científica e das redes sociotécnicas.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Acting in an Uncertain World: an essay on technical democracy

Segue abaixo o link para o livro de Michel Callon, Pierre Lascoumes e Yannick Barthe. A edição é a versão em inglês do texto em francês indicado para a sessão 12. A contribuição para o blog é do colega Manuel Avellaneda

Acting in an Uncertain World: an essay on technical democracy

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Relato da Sessão 14 - 24/11

Relato da Sessão 14 - Duas ou três coisas sobre a ciência sociológica

Textos indicados:
GIDDENS, A. O que é Ciência Social? In: GIDDENS, A. Em Defesa da Sociologia. São Paulo, Ed. UNESP, 2001, p. 97-113.
BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001. Cap. 1 (Emancipação), p. 23-63.

Por Tamara Benakouche

Considerando que todos na turma já haviam feito um relato para o blog e que nesse período do ano todos estão bem ocupados, não pressionei por novos voluntários e resolvi fazer eu mesma um breve relato da sessão 14, a última da disciplina, já que por motivos justificados em classe a sessão 15 foi cancelada.

O debate teve início a partir da seguinte questão, posta por mim: os textos indicados poderiam ajudar a definir um programa de ensino de Sociologia dentro de um curso na área de Estudos Sociais da Ciência e da Técnica (para simplificar, de CTS)? Afinal, o texto de Giddens afirma que já não há um consenso ortodoxo nas Ciências Sociais, e que em seu lugar há uma “multiplicidade de diferentes perspectivas teóricas” (p.98). As respostas convergiram no sentido de reconhecer as dificuldades para o ensino da Sociologia de um modo geral, inclusive no ensino médio e nas primeiras fases de outros cursos superiores, onde a disciplina é exigida.

Como alguns dos participantes são professores nesses níveis, houve uma interessante troca de experiências, havendo um certo consenso a respeito de alguns pontos, dentre os quais destaco: mais do que transmitir só conhecimentos, é importante motivar os alunos, trazendo temáticas do seu mundo para as aulas; combinar Sociologia com uma reflexão histórica parece ser estimulante; idem com uma reflexão filosófica; o estudo da teoria é importante, tanto quanto o de elementos de metodologia de pesquisa; a situação ideal seria que a perspectiva sociológica permeasse o conjunto de disciplinas...

Apesar da tentativa de discutir separadamente os textos de Giddens e de Bauman, isso não ocorreu, pois ora aspectos lembrados por um, ora por outro desses autores foram resgatados durante a aula. No entanto, a título de um breve relato, como é o propósito aqui, vale ressaltar os seguintes pontos:

- a idéia central do texto de Giddens foi identificada e aparentemente aceita. No caso, trata-se do reconhecimento de que as ciências sociais envolvem uma dupla hermenêutica: “os conceitos e as teorias desenvolvidas no âmbito destas se aplicam a um mundo constituído das atividades praticadas por indivíduos que conceituam e teorizam.” (p.111). Ou seja, todos os indivíduos interpretam a sociedade em que vivem (conceituam e teorizam, praticamente); cabe aos sociólogos interpretar estas interpretações (donde a noção de dupla hermenêutica). Este é o principal elemento que diferencia as ciências sociais das naturais – e estão na origem de suas dificuldades de reconhecimento acadêmico; os elementos da natureza – como as estrelas ou as marés – não teorizam sobre eles próprios. Nem mudam seu curso ou seu ritmo a partir das teorizações que são feitas sobre eles...

- um ótimo resumo do texto do Bauman foi feito pelo Felipe, que ressaltou a crítica feita pelo autor à chamada teoria crítica, a qual hoje estaria obsoleta: esta associava a emancipação dos indivíduos à diminuição da presença do Estado em suas vidas, mas, segundo Bauman, com o acelerado processo de individualização na atual modernidade (líquida, como ele a nomeia), “a verdadeira libertação requer hoje mais, e não menos, da ‘esfera pública’ e do ‘poder público’. (p. 62). Hoje, seria o espaço privado que coloniza o público. No debate em torno do texto foram ainda discutidos outros aspectos, valendo destacar: a diferença feita por Bauman entre indivíduo e cidadão; e as mudanças históricas dos medos que afligem as pessoas (no caso, fiz referencia ao livro História do Medo no Ocidente, de Jean Delumeau).

Finalmente, a Manuela fez uma crítica às ciências sociais atuais, afirmando que elas ainda tratam a natureza como distinta da sociedade, sem incorporá-la em suas teorizações ou agendas. Tal afirmação deu origem a um rico debate, que convergiu para uma aceitação de que isso já foi verdadeiro, mas que tal situação está em plena transformação.