Este blog visa reunir textos e comentários dos alunos da disciplina Sociologia da Ciência e da Técnica, oferecida no segundo semestre de 2010 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSC, sob a coordenação da Profª Tamara Benakouche. A disciplina tem como objetivo analisar a produção da ciência e a inovação tecnológica como elementos centrais para o entendimento da dinâmica social moderna. Nesse sentido, visará o estudo de questões teóricas - colocadas por autores clássicos e contemporâneos - e práticas, postas por processos sócio-políticos mais recentes. Adotando a perspectiva construtivista, procurará desenvolver uma crítica a análises que sustentam a natureza apolítica da pesquisa científica e o determinismo da técnica, resgatando a importância de novas formas de cidadania científica e das redes sociotécnicas.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Coisas não ditas (durante a sessão 9)

Por Denise Nunes

1)Influências epistemológicas

a)Considero importante lembrar que Bourdieu é um dos autores que elaboraram teorias de síntese, ou seja, para ele as teorias clássicas em suas abordagens macro e micro sociológicas seriam insuficientes para os estudos da sociedade e seria necessário uma abordagem macro E micro de forma simultânea e não isolada, como acontecia nos clássicos. Por este motivo é tão evidente a influência dos autores clássicos em seus escritos.

b)Fica mais claro para alguns leitores a influência de Durkheim nas obras de Bourdieu, o que me parece algo um tanto previsível e legítimo; afinal, ambos eram franceses e naquele contexto a disputa por um lugar ao sol na academia não era (como parece não ser também hoje) nada fácil. Sendo assim, penso que nada mais coerente do que ser assimilado/lembrado junto a um clássico da área para se começar a ter notoriedade. Diria que Bourdieu só estava colocando em prática o que explicou em algum momento da sua teoria.

c)Tentativa de comparação entre os autores Bourdieu e Latour (e suas obras). Quanto a isso, penso que os objetivos (principalmente os iniciais) de ambos eram diferentes. Bourdieu pretendia teorias de síntese (em última instância) e Latour, estudos de caso, além de seu lugar ao sol. Acredito que ambos os trabalhos chamam a atenção do leitor para focos diferentes da pesquisa. Se eles fazem críticas, elogios ou simplesmente “destroem” os trabalhos um do outro, eis a vida acadêmica! Eis o fazer ciência! Nos termos de Bourdieu, podemos dizer que se trata de uma disputa no campo, e nos termos de Latour trata-se de uma “batalha” discursiva (quase) que pelo convencimento. Ok! Simplifiquei quase ao nível do achincalhamento e peço que me perdoem. Mas o que eu quis dizer é que considero ambos os autores e obras incomparáveis no sentido de se tentar uma avaliação (boa ou ruim) e, antes de mais nada, que o debate público a respeito faz com que as “luzes dos holofotes” da academia dirijam-se a eles, e nesse momento, vigora um velho ditado: “quem não é visto não é lembrado”. Dessa forma. ambos passam a ter visibilidade. Mas isso talvez seja apenas mais um de meus pressupostos simplistas...

2)Teorias de síntese

Sobre isso gostaria de lembrar que Bourdieu não foi o único nessa empreitada. Anthony Giddens se deu ao mesmo trabalho (cito apenas ele por ser um dos autores da aula seguinte a de Bourdieu). Ambos falam nas teorias da estruturação, ambos têm conceitos comuns, embora diferentemente enunciados. Em ambas as teorias encontraremos as noções de agentes, estrutura e de reflexividade, por exemplo. É interessante prestar atenção nesses dois modos de fazer teoria e nas diferenças que cada uma apresenta. São autores de contextos diferentes que buscam algo comum: teorias de síntese. Veremos também que cada qual apresenta o peso de um clássico diferente. Assim como mencionamos a presença das idéias de Durkheim em Bourdieu, penso que salta aos olhos a perspectiva hermenêutica de Weber nas idéias de Giddens. Seria legal focar também como os autores percebem o senso comum... Enfim! Lembro que antes de julgar qualquer um dos autores contemporâneos seria legal relembrar as aulas iniciais da disciplina, que tinham seu quê de epistemologia; afinal, as idéias não saem do nada e é sempre bom evitar o tal anacronismo do qual falava Skinner: estes autores escreveram de acordo com determinadas leituras e/ou influências e voltados para seus respectivos contextos. Assim, penso que não nos cabe julgá-los valorativamente ou simplesmente dizer que eles não pensaram na realidade brasileira (ou qualquer outra) dos dias atuais. Creio que “talvez” essa não fosse a intenção deles.

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