Este blog visa reunir textos e comentários dos alunos da disciplina Sociologia da Ciência e da Técnica, oferecida no segundo semestre de 2010 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSC, sob a coordenação da Profª Tamara Benakouche. A disciplina tem como objetivo analisar a produção da ciência e a inovação tecnológica como elementos centrais para o entendimento da dinâmica social moderna. Nesse sentido, visará o estudo de questões teóricas - colocadas por autores clássicos e contemporâneos - e práticas, postas por processos sócio-políticos mais recentes. Adotando a perspectiva construtivista, procurará desenvolver uma crítica a análises que sustentam a natureza apolítica da pesquisa científica e o determinismo da técnica, resgatando a importância de novas formas de cidadania científica e das redes sociotécnicas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Relato da Sessão 13 - 17/11/10

Relato da sessão 13 – A política nacional de ciência e tecnologia e a "colonialidade do saber"

Por Douglas Henrique da Silva

1) Inicialmente foi feito um breve histórico das políticas de Ciência e Tecnologia no Brasil.

Em um primeiro momento, pode-se dizer que as políticas públicas de C&T no Brasil iniciam-se com a vinda da família real portuguesa, fixada no Rio de Janeiro durante o começo do séc. XIX, através da abertura dos portos, da implantação de uma fábrica de pólvora e da criação do Jardim Botânico, com a finalidade de aclimatar as especiarias como noz-moscada, canela e pimenta-do-reino.

Um segundo período das políticas de C&T no Brasil se dá com as políticas de “modernização” das cidades (Rio de Janeiro, Florianópolis), baseadas no modelo de grandes “boulevards” franceses e ligadas às reformas sanitárias. Um ótimo exemplo destas políticas, que foi citado em sala de aula, é a famigerada “revolta da vacina”, em finais de 1904, onde ocorreram diversos conflitos entre a população e o governo devido à obrigatoriedade de vacinação contra a varíola, complementada com a derrubada forçada de diversas casas em áreas de “risco” sanitário.

Em 1916, funda-se a Sociedade de Ciência Brasileira, atual Academia Brasileira de Ciências, e o Museu Nacional, em 1918. Durante as décadas seguintes serão criadas as principais universidades do país, culminando com a fundação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência [SBPC], em 1948, e do Conselho Nacional de Pesquisa [CNPq], em 1951, pelo almirante do exército Alvaro Alberto.

Cabe também destacar que durante a ditadura militar, as políticas de C&T serão impulsionadas sob a égide do "desenvolvimento nacional", ou do “Brasil Grande Potência”, o que vai gerar os grandes complexos industriais existentes hoje, principalmente na região Sudeste.

2) Em seguida foi discutido o conteúdo geral do chamado "Livro Azul".

Produzido na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável do País [CNCTI], 2010, o "Livro Azul" é um documento com recomendações sobre Política de Ciência, Tecnologia e Inovação para a próxima década, propostas na CNCTI e que foi colocado para consulta pública pelo Ministério de Ciência e Tecnologia.

O livro é organizado em 3 grandes partes, qual sejam: introdução e apresentação; estágio atual da C,T&I e oportunidades para o Brasil; grandes desafios e a agenda para C,T&I. Devido ter sido redigido em uma linguagem técnica e oficial, foi apontado em sala seu caráter normativo apesar de não possuir valor de lei.

Outro ponto discutido foi a falta de indicações sobre formas de governança pública da C,T&I, assim como as formas de implementação das recomendações, ou seja: como transformar estas recomendações em planos, programas e ações planificadas?

De acordo com o documento, as principais tecnologias estratégicas para o Brasil durante a próxima decada são: bioenergia, informática e comunicações, saúde, pré-sal, defesa e as tecnologias do futuro [nanotecno e biotecnologia].

3) Na seqüência, foi discutido um texto sobre grupos de pesquisa em C&T.

A partir do artigo de Araujo [2009] pudemos perceber que, a partir da década de 70, vai sendo produzido - inicialmente na Europa e EUA - um novo "campo conhecido como Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, Estudos da Ciência e da Tecnologia ou mesmo Estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)". Este campo vai destacar a ciência "se fazendo", como o resultado de um processo social, "inseridos na estrutura social como as demais ações humanas, estando sujeita aos interesses, conflitos e contradições comuns a qualquer atividade social." Deste campo, o autor busca descreve sua pesquisa sobre os grupos existentes no Brasil a partir do Censo 2006 do Diretorio dos Grupos de Pesquisa do CNPq, onde foram identificados 30 grupos, 95 linhas de pesquisa, 217 pesquisadores, 216 estudantes e 11 técnicos. Foram destacados em sala de aula os seguintes dados:

- a distribuição geográfica dos grupos de pesquisa, localizados principalmente no sudeste [63%] e sul [33%];

- a distribuição por área do conhecimento, sendo aproximadamente 84% das Ciências Humanas [a maior parte em "educação"];

- a distribuição por temáticas, onde mais de 50% está voltado para "ensino", "formação de professores" e "educação".

Esta predominância da "educação" pode ser analisada enquanto uma política de "popularização" da ciência que vem sendo realizada pelas universidades e outras organizações e impulsionada pelo Estado.

Neste sentido, também foi lembrado pelo Ney os dados da Conferência Nacional de Educação de 2010: aproximadamente 60,4% da população possui somente o Ensino Fundamental, 18% o Médio, 10% o Superior e cerca de 11% é analfabeto [http://conae.mec.gov.br/].

4) Finalmente, discutiu-se o texto "Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina".

Com base no artigo de A. Quijano [2000], foram discutidas as possíveis implicações do chamado "pensamento pós-colonial" sobre o campo de estudos da C&T. Partindo da ideia de "raça", o autor descreve como este termo foi construído a partir do contato colonial entre a Europa e as Américas:

"La idea de raza, en su sentido moderno, no tiene historia conocida antes de América. Quizás se originó como referencia a las diferencias fenotípicas entre conquistadores y conquistados, pero lo que importa es que muy pronto fue construida como referencia a supuestas estructuras biológicas diferenciales entre esos grupos."

Para Quijano, a produção deste modo de diferenciação através da raça, combinado com a articulação de todas as formas históricas de controle do trabalho humano em torno de do capital e do emergente mercado mundial, vai estruturar o novo padrão de poder da chamada "modernidade".

Desta forma, a distinção evolutiva entre raças primitivas e civilizadas - importante destacar que esta distinção fora realizada em bases "científicas" - leva a produção de um padrão de dominação de toda humanidade não-civilizada:

"El hecho de que los europeos occidentales imaginaran ser la culminación de una trayectoria civilizatoria desde un estado de naturaleza, les llevó también a pensarse como los modernos de la humanidad y de su historia, esto es, como lo nuevo y al mismo tiempo lo más avanzado de la especie. Pero puesto que al mismo tiempo atribuían al resto de la especie la pertenencia a una categoría, por naturaleza, inferior y por eso anterior, esto es, el pasado en el proceso de la especie, los europeos imaginaron también ser no solamente los portadores exclusivos de tal modernidad, sino igualmente sus exclusivos creadores y protagonistas."

Assim, o autor busca apontar como as próprias ideias de "Americas", "Europa", "Estado-nação" e "capitalismo" surgem através do contato inter-Atlântico, enquanto uma invenção social [e por que não dizer uma "ficção científica"] e, articuladas com o controle do trabalho, são elementos constitutivos dos padrões de dominação/exploração contemporâneos.

Esta articulação produz um reverso colonial do projeto de emancipação moderno e, de acordo com Dussel [2000], constitui um mito da racionalidade moderna enquanto razão superior, razão científica, que deve ser levada aos "outros" e caso necessário imposta, através de uma justificativa moral relacionada com a ideia de salvação. Dussel afirma de forma provocativa que o "ego cogito" moderno fora antecedido pelo "ego conquiro" [eu conquisto] ibérico que impos sua vontade - "la primera 'voluntad-de-poder' moderna" - sobre o índio americano.

O autor resumo este "mito" desta forma:

"1) La civilización moderna se autocomprende como más desarrollada, superior (lo que significará sostener sin conciencia una posición ideológicamente eurocéntrica).
2) La superioridad obliga a desarrollar a los más primitivos, rudos, bárbaros, como exigencia moral.
3) El camino de dicho proceso educativo de desarrollo debe ser el seguido por Europa (es, de hecho, un desarrollo unilineal y a la europea, lo que determina, nuevamente sin conciencia alguna, la "falacia desarrollista").
4) Como el bárbaro se opone al proceso civilizador, la praxis moderna debe ejercer en último caso la violencia si fuera necesario, para destruir los obstáculos de la tal modernización (la guerra justa colonial).
5) Esta dominación produce víctimas (de muy variadas maneras), violencia que es interpretada como un acto inevitable, y con el sentido cuasi-ritual de sacrificio; el héroe civilizador inviste a sus mismas víctimas del carácter de ser holocaustos de un sacrificio salvador (el indio colonizado, el esclavo africano, la mujer, la destrucción ecológica de la tierra, etcétera).
6) Para el moderno, el bárbaro tiene una "culpa" (el oponerse al proceso civilizador) que permite a la "Modernidad" presentarse no sólo como inocente sino como "emancipadora" de esa "culpa" de sus propias víctimas.
7) Por último, y por el carácter "civilizatorio" de la "Modernidad", se interpretan como inevitables los sufrimientos o sacrificios (los costos) de la "modernización" de los otros pueblos "atrasados" (inmaduros), de las otras razas esclavizables, del otro sexo por débil, etcétera."

Neste sentido cabe questionar como a Ciência e a Tecnologia [por que não dizer também a "Sociedade"?] moderna constituiu-se sobre o sacrifício dos "outros" [da ciência, da tecnologia e da "sociedade" do outro], seja através da negação de sua racionalidade, impedindo sua produção e transmissão, seja através da incorporação não-referenciada dos conhecimentos, saberes e formas de produção não-modernos, assim como questionar, principalmente: para quê e para quem se esta produzindo ciência e tecnologia, para quem se esta produzindo "sociedade"?

Referências:
- 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Livro Azul. Ministério de Ciência e Tecnologia, 2010
- Araujo, Ronaldo F. Os grupos de pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade no Brasil. Revista Brasileira de Ciência, Tecnologia e Sociedade. Vol. 1, N.º 1, 2009. Disponível em http://www.revistabrasileiradects.ufscar.br/index.php/cts/article/view/50/4.
- Dussel, Enrique. Europa, modernidad y eurocentrismo. En libro: La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas Latinoamericanas. Edgardo Lander (comp.) CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires, Argentina. Julio de 2000. Disponível em http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/lander/dussel.rtf
- Quijano, Aníbal Colonailidad del poder, eurocentrismo y América Latina. En publicacion: La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. Edgardo Lander. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Julio. 2000. Disponível em http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/lander/quijano.rtf

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ciência pré-latina-americana

Por indicação do Douglas Silva, segue o link abaixo, com um artigo sobre ciência e tecnologia na America Latina "anterior", conforme aponta o autor - Attico Chassot, professor na UNISINOS - à chamada ciência moderna. É um material bem interessante para pensarmos os temas e debates levantados na última aula.

Uma ciência latino-americana anterior, a assim chamada Ciência Moderna

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Relatos da Sessão 12 - 10/11/2010

Relato da Sessão 12: Do saber perito ao saber leigo: a participação pública na ciência

Por Manuela Alvarenga Nascimento

A aula teve inicio com um debate sobre a participação pública na ciência e exemplos de testes que indústrias farmacêuticas realizam em pessoas, estando elas informadas disto ou não. Para ilustrar, foram citados alguns filmes que tratam do tema, como o filme “O jardineiro fiel” que mostra a articulação entre a indústria farmacêutica, governantes e médicos na realização de testes em pessoas doentes na África. Também foi comentado que, apesar de todos os avanços na área médica para alcançar a cura do câncer, as estatísticas demonstram que esta ainda é uma doença que provoca muitas mortes.

Nesta sessão também foram propostas pela professora algumas mudanças nas últimas aulas da disciplina. Foi aberto um espaço para sugestões de tópicos a serem discutidos no próximo encontro, e entre eles pode-se citar: “colonialidade do saber”; informática e cyber cultura; tecnologia e meio ambiente; C&T e gênero; tecnologias do corpo; política de ciência e tecnologia no Brasil. Depois do debate se decidiu que serão tratados dois temas na próxima aula: política nacional de ciência e tecnologia e “colonialidade do saber”.

Na segunda parte da aula se discutiu o texto “Ciência cidadã” de Alan Irwin. Após ler o texto, os alunos consideraram que, segundo o autor, uma recapitulação histórica da participação pública na ciência mostra que esta participação foi entendida como “mostrar” ao público as “conquistas” da ciência, ou seja, seus avanços e descobertas. Assim, se realizam semanas da ciência ou criam-se museus da história da ciência. Foi comentado que há pouco interesse do público em torno da ciência, dada a sua complexidade. Um reflexo disto é que, na televisão, os horários abertos para programas de assuntos científicos são momentos em que há baixa audiência, como o sábado ou domingo de manhã.

Também foi mencionado que o público precisa ser esclarecido para entender as informações dadas. Entretanto, esclarecer não significa torná-lo crítico. A “alfabetização científica” é geralmente usada para que a ciência seja conhecida e apoiada. Em relação a isto, pode-se questionar “de onde vem a informação dada?”, “quem informa?”. Há também certa ansiedade da comunidade cientifica em se abrir ao questionamento público. Nos processos de Consultas Públicas, é importante que os cientistas recebam questionamentos sobre temas que são considerados cientificamente como dados e inquestionáveis. Os conhecimentos tradicionais (indígena, por exemplo) põem em questão os critérios de validação da ciência. As pessoas em geral também têm conhecimentos, ainda que fragmentados. As pessoas “sempre sabem alguma coisa”.

A professora Tamara chama a atenção para o fato de que entre informação e crítica há a possibilidade de manipulação. Podem ser transmitidas, ou usadas, informações equivocadas ou pode-se forçar determinadas posições. As revistas “Superinteressante” ou “Galileu” se destinam a um público especifico que “sustentam” as revistas.

Outro aspecto relevante é que pessoas bem informadas, geralmente, não se mobilizam e inserem as questões na esfera pública. São pessoas que acessam bons canais de informação, são capazes de entender o que está sendo transmitido, mas que não transformam seus conhecimentos em ações que possam contribuir para mudar a realidade problemática. É o que se chama de “disfunção narcotizante da informação”. Por exemplo, há alto índice de câncer no estado de Santa Catarina, mas não se procura saber as causas desses números.

Neste processo de participação na ciência é importante, como já foi dito, que haja uma interação entre cientistas e público, mas deve-se diferenciar quando a negativa de participação pública se trata de resistência e o apelo dos cientistas de defesa de interesses específicos.

Foi mencionado que existem poucos mecanismos de participação na ciência; “ela está blindada”, por exemplo, em questões como construção de usinas, o uso dos transgênicos, o Pré-sal, não se nota um caminho aberto e claro de participação nas discussões e tomada de decisão. A participação não seria viável? O que é participação? Quem é o público? Como se participa?

Foi comentado que já existem algumas vias, como a participação pela internet, ou em conselhos do governo. Ainda estamos no processo de construção da participação (“in the making).

Foi finalmente apresentado o texto de Callon em que ele discute como agir em “A procura de um mundo comum”. Segundo o autor, não há um modelo pronto. Callon trabalha com dois eixos, o da participação na ciência e o da participação na política, propondo que há um ponto de cruzamento entre os dois. O cruzamento desses eixos passa, também, pela construção de uma democracia dialógica.

No Brasil há um reduzido campo de discussão aberto sobre a participação na ciência. Foram mencionados núcleos de estudos sobre esta temática. Entretanto, a professora Tamara insiste que não deveríamos assumir uma postura pessimista frente a isto. Ainda não está claro o COMO participar, mas isto não significa que não possa haver vias participativas. Citando Callon, Tamara diz “é importante considerar as possibilidades que oferecem potencialidades de diálogo entre o público e o cientista”, (Callon, p. 60)

sábado, 13 de novembro de 2010

Anibal Quijano

O artigo do sociólogo peruano Anibal Quijano, "Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina"; uma das leituras indicadas para a próxima sessão pode ser baixado aqui

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Livro Azul

Já está disponível para consulta pública o documento (Livro Azul) com a consolidação das recomendações propostas na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável do País (CNCTI), evento realizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE ), em maio último, em Brasília.

O MCT convida a toda a sociedade - em especial aos conferencistas e participantes da 4ª CNCTI, cientistas, pesquisadores, técnicos, empresários, trabalhadores, professores, estudantes e demais interessados das instituições de pesquisa e de ensino, dos órgãos governamentais, da iniciativa privada e do Terceiro Setor - para participar da consulta pública que irá gerar um documento final, o "Livro Azul". O objetivo da Consulta consiste em avaliar e aprimorar as sugestões do referido evento, que foram consolidadas por uma comissão de redação coordenada pelo secretário executivo do MCT, Luiz Antonio Elias, e pelo secretário geral da 4ª CNCTI, Luiz Davidovich.

A colaboração de todos é muito importante para aprimorar e aumentar a representatividade desse documento, fortalecendo seu papel no estabelecimento de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável do País na próxima década.

Para ler o documento e fazer a sua contribuição basta entrar no link (http://www.cgee.org.br/prospeccao/exercicio/delphi/cadastre_livroazul.php ), cadastrar-se e seguir as instruções. Essa consulta está aberta até o próximo dia 22 de novembro.

Para baixar o Livro Azul acesse aqui

Revista Brasileira de Ciência, Tecnologia e Sociedade

Olá pessoal! O link abaixo é do número 1 da revista do primeiro programa de pós-graduação no Brasil declaradamente na área de Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, na Universidade Federal de São Carlos, SP (UFSCAR). Uns artigos são interessantes, outros não, mas deixo voces decidirem a respeito... Gostaria porém de chamar a atenção para a resenha que está publicada lá, de nivel muito bom, e que poderia inspirar voces. Vale dar uma olhada!!! E deixar comentários...
Tamara

Revista Brasileira de Ciência, Tecnologia & Sociedade

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Relato da Sessão 11 - 3/11/10

Relato da Sessão 11 - Existem Acidentes Normais? A Banalização do Risco

Por Daniel Caon Alves

A partir do tema dos "riscos" relativos à tecnologia, esta aula teve dois momentos: o primeiro, em torno do texto Normal Accidents - living with high-risk technologies, de Charles Perrow, onde a análise em aula deteve-se na reflexão geral sobre a própria noção de risco; o segundo momento, como estudo de caso, girou em torno do acidente com o ônibus espacial estadunidense Challenger, ocorrido em 1986, tendo ainda como suporte um capítulo da obra O Golem à Solta: o que você deveria saber sobre tecnologia, de Harry Collins e Trevor Pinch, que analisa aquela tragédia ocorrida no programa espacial norte-americano.

A partir da tese de que o uso e a produção crescentes de tecnologia em nossas sociedades implicam na presença constante de um determinado fator de risco, a análise desses riscos envolve cada vez mais não apenas o isolamento de um elemento (erro humano, falha mecânica, condições ambientais/contextuais, design do sistema ou procedimentos - a partir da sigla em inglês “DEPOSE: design, equipment, procedures, operators and environment”), mas a consideração da inter-relação e da própria complexidade do sistema tecnológico em questão. Discutiu-se em aula a abrangente conceitualização de Perrow acerca da ordenação tecnológica, onde o autor procura dar conta de uma complexidade que dificulta o entendimento das causas de acidentes e dos graus de riscos inerentes a cada sistema tecnológico.

Em geral, esses sistemas apresentam interações que podem ser lineares ou complexas propriamente ditas, através de acoplamentos ("coupling") fortes ou fracos. Nesse sentido, o risco, e consequentemente, os acidentes, são normais não porque se espera que ocorram, mas porque são intrínsecos à própria disposição do sistema. Algo que exemplifica a questão é a própria redundância, isto é, a presença de subsistemas tecnológicos que garantam o funcionamento do sistema primário ou que o substituam em caso de alguma falha. Em virtude do nível de segurança buscado em cada caso, essa redundância, ao mesmo tempo em que supre uma necessidade de prevenção, ela própria pode gerar uma complexidade por demais arriscada para todo o empreendimento.

O estudo de caso realizado no segundo momento da aula ilustrou a discussão inicial. Em 28 de janeiro de 1986, a explosão do ônibus espacial Challenger, minutos após o seu lançamento, resultou na morte de toda sua tripulação e comoção social profunda nos Estados Unidos, uma vez que o evento estava sendo amplamente televisionado, especialmente em função de a missão contar, pela primeira vez, com um tripulante civil, no caso, uma professora que iria transmitir em rede nacional uma aula diretamente do espaço.

A grande questão que norteou o debate desse tema foi em torno da questão da responsabilidade sobre riscos tecnológicos, ou como foi fortemente suscitado a partir do acidente com a Challenger e em outros casos envolvendo a opinião pública, de se saber os culpados. Acompanhando a reflexão de Harry Collins e Trevor Pinch, com a contribuição da exibição de vídeos, reportagens e filmagens sobre a tragédia com a Challenger, um dos pontos mais importantes debatidos, após vários anos decorridos do acidente, é distinguir os fatores técnicos daqueles que envolveram a tomada de decisão, ou seja, um nível mais gerencial. Em função desse episódio em particular, onde o contexto sócio-político marcava fortemente os rumos do programa espacial estadunidense, logo surgiram afirmações de que a urgência motivada por questões políticas precipitou uma tomada de decisão acima dos riscos que se costuma dizer "necessários".

Porém, uma análise mais aprofundada oferecida pelos autores revelou como questões técnicas inerentes a uma empresa de tão alto risco como o lançamento de veículos espaciais tripulados são de difícil resolução por parte daqueles que se responsabilizam pelo seu controle. Assim, o conflito que houve entre os diferentes grupos de engenheiros acerca de testes e verificações, que se mostraram mais do que meros detalhes ou preciosismo, pode ilustrar que, para além do entorno político, havia impasses na própria instância técnica. Em outras palavras, dado o alto grau de precisão necessário e, ao mesmo tempo, a dificuldade de domínio dos fatores implicados, não havia acordo suficiente sobre até que ponto uma determinada peça teria condições aceitáveis para o projeto - para ficar só no exemplo dos anéis-em-O. Nesse sentido, o debate em aula demonstrou como a própria noção de "aceitável" pode ser bastante subjetiva, mesmo num campo tão "técnico" como a engenharia aeroespacial. Com a explosão da Challenger, muitos pontos de discussão acerca daquela missão que anteriormente talvez não fizessem sentido foram percebidos de outra forma já no contexto do acidente, entre elas, o risco representado por discordâncias e incertezas entre administradores e, especialmente, entre engenheiros.


Referências Bibliográficas

PERROW, Charles. Normal Accidents. Living with high-risk technologies. USA: Basic Books, 1984.

COLLINS, Harry e PINCH, Trevor. O Golem à Solta: o que você deveria saber sobre tecnologia. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2010.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

TENDÊNCIAS/DEBATES: Cenário promissor para a inovação no país

Por SERGIO MACHADO REZENDE e RONALDO MOTA

Ainda que haja longo caminho a percorrer, as empresas já incorporam a inovação em seus processos produtivos, tornando-se mais competitivas

Inovação compreende um produto ou processo novo, bem como a introdução de uma qualidade ou funcionalidade inédita de produto já existente; é fator decisivo para a competitividade das empresas. A atividade de inovação tecnológica requer a participação de engenheiros e cientistas, preponderantemente com formação pós-graduada.

Apesar do início tardio, a pós-graduação brasileira avança rapidamente. O número de mestres e doutores formados passou de cerca de 5.000 em 1987 para quase 50 mil em 2009.

A ciência avançou muito no Brasil; no entanto, a inovação tecnológica em nossas empresas ainda é tímida. Tal situação decorre da carência de cultura de inovação no ambiente empresarial e da insuficiente articulação entre política industrial e ciência e tecnologia.

Até recentemente, o principal instrumento para apoiar a inovação era o crédito da Agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com juros da Taxa de J uros de Longo Prazo (TJLP) mais 5%.

Mas isso está mudando. Inovação é, hoje, uma das prioridades da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação 2007-2010 (Pacti).

Com a Lei de Inovação (2004) e a Lei do Bem (2005), as empresas passaram a contar com instrumentos mais amplos e efetivos.

A subvenção econômica viabilizou a concessão de mais de R$ 2 bilhões não reembolsáveis para empresas realizarem inovação. Tal valor é complementado por outros investimentos reembolsáveis da Finep e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio de créditos com juros muito baixos.

O Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe) aporta recursos para as pequenas e médias empresas em operação com parceiros estaduais. Adicionalmente, existem hoje mais de 30 fundos de capital de risco, com mais de R$ 3 bilhões para investir. O Programa Primeira Empresa Inovadora (Pri me) concedeu em 2009 subvenção econômica para 1.381 empresas, por meio de parcerias com 17 incubadoras.

O Programa RHAE-Pesquisador na Empresa, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), concede bolsas para mestres e doutores atuarem nas empresas, tendo contemplado, nos anos de 2008 e 2009, mais de 300 empresas, possibilitando a inserção de 507 mestres e doutores e 550 técnicos nas equipes de trabalho.

A Lei do Bem concede incentivos fiscais para empresas que realizem atividades de inovação. Em 2006, 130 empresas declararam investimentos de R$ 2,2 bilhões. Já em 2009, 635 empresas investiram mais de R$ 9,1 bilhões.

O mais recente estímulo para inovação vem da medida provisória 495/2010, que altera a lei de licitações públicas ao conceder a margem de preferência de até 25% nas licitações estatais às empresas que investem em inovação.

Para fomentar a interação universidade-empresa, o go verno federal implantou o Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), formado por 56 redes de núcleos de pesquisa e desenvolvimento, sendo 14 redes de centros de inovação, 20 de serviços tecnológicos e 22 de extensão organizadas nos Estados. Ainda há um longo caminho, mas passos importantes têm sido dados na direção correta.

As empresas já incorporam a inovação em seus processos produtivos, tornando-se mais competitivas e mais lucrativas. Isso oferece condições para a conquista de novos mercados. O país começa a formar uma nova geração de empresários, empreendedores em tecnologia.
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SERGIO MACHADO REZENDE é ministro da Ciência e Tecnologia.
RONALDO MOTA é secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia.
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Texto publicado na Folha de S.Paulo de 8 de novembro de 2010.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Relatos da Sessão 10 - 28/10/2010

Relatos da Sessão 10 – Riscos e reflexividade: o quanto é o suficientemente seguro?

Por Ana Carolina Cassiano

Nesta aula, começamos a discutir questões contemporâneas relacionadas à Sociologia da Ciência e da Técnica. Os riscos situam-se como um dos temas mais importantes quando se discute C e T hoje. O tema dos riscos passou a se tornar objeto de estudo das ciências sociais a partir da década de 1980. Até então, os riscos vinham sendo estudados por outras áreas do conhecimento em que predominavam análises técnico-quantitativas.

Ulrich Beck foi um dos teóricos que começou a discutir tal temática, pensando os riscos de forma mais ampla, em busca de uma “teoria social da modernidade”. Portanto, seu intuito ao estudar a temática é descrever características da sociedade contemporânea. Beck considera os riscos característicos da atual fase da modernidade – que chama de segunda modernidade – como sendo diferentes dos riscos que existiam na sociedade industrial. Enquanto estes últimos são possíveis de quantificação e de cálculos probabilísticos, os específicos do mundo contemporâneo não podem ser quantificados, dado seu caráter ainda mais incerto. Pelo papel definidor que os riscos agora adquiriram, esta fase da modernidade também é intitulada pelo autor de sociedade de risco.

Enquanto na primeira modernidade há uma confiança no progresso e na controlabilidade do desenvolvimento científico-tecnológico, na segunda modernidade o desenvolvimento técnico-científico não daria conta de controlar e prever os resultados dos riscos que ajudaram a criar. Estes seriam agora riscos de alta conseqüência, pois podem ser irreversíveis. Exemplo disso seriam riscos ecológicos, químicos e nucleares. Outra característica dos riscos da segunda modernidade que é ressaltada por Beck é que estes seriam “democráticos”: afetariam a todos, ultrapassando fronteiras de países e classes sociais.

Esta foi uma das principais dimensões que geraram críticas ao autor no debate em sala; afinal, os riscos seriam democráticos para quem? E onde? Ao diferenciar duas fases da modernidade, Beck obviamente não está pensando que há uma ruptura total entre aspectos existentes anteriormente. Mas ao propor que os riscos são democráticos, ele parece estar pensando em uma sociedade em que prevalecem características da segunda modernidade. Neste sentido, o autor parece ignorar que existem sociedades em que convivem aspectos destas duas fases da modernidade, nas quais as diferenças entre classes ainda são gritantes; isso poderia tornar alguns mais suscetíveis a certos riscos do que outros e, portanto, tais riscos não seriam tão democráticos assim. Alguns colegas sugeriram que talvez o autor tenha sido infeliz no uso deste termo, e que se tivesse utilizado apenas a ideia de estes riscos serem “universais” ou “globais” isso já seria satisfatório.

Anthony Giddens assume o conceito de risco proposto por Beck, concordando que os riscos de alta conseqüência – que acarretam implicações para grande número de pessoas – são característicos da atual fase da modernidade. Entretanto, em sua análise, Giddens acrescenta algumas dimensões a esta fase, à qual ele dá o nome de alta modernidade. Uma das características centrais apontadas pelo sociólogo inglês é que estaríamos agora vivendo as conseqüências da modernidade (justamente o título do livro em que se encontra o capítulo que lemos) e que a confiança nos sistemas peritos passou a ser reavaliada.

Estes sistemas seriam um tipo de mecanismo de desencaixe, mecanismos que deslocam as relações sociais de contextos específicos de interação e as recombinam por meio de grandes distâncias no tempo e no espaço. Os sistemas peritos colocam entre parênteses o tempo e o espaço, dispondo de conhecimento técnico que possui autoridade independentemente do público que faz uso dele. Isto implica em uma atitude de confiança em relação a estes sistemas. Para as pessoas leigas, a confiança nos sistemas peritos não depende de um domínio sobre o conhecimento que eles produzem, mas sim de uma forma de “fé” que se baseia na experiência de que estes sistemas, na maioria das vezes, funcionam da forma que é esperada que eles funcionem. Assim, o conceito de confiança é outra noção central no texto de Giddens.

Ao analisar as descontinuidades da história do desenvolvimento da modernidade, Giddens descreve características tanto da modernidade, quanto da tradição. No que se refere aos sistemas peritos, diferente do que ocorre em sociedades tradicionais, nas condições da modernidade, estes permeiam todos os aspectos da vida social, não se limitando a áreas de conhecimento tecnológico, mas estendendo-se às próprias relações sociais. Já a alta modernidade seria caracterizada pelo reconhecimento de que a ciência e a tecnologia têm dois gumes: ao mesmo tempo em que oferecem benefícios à humanidade, podem trazer novos riscos e perigos. Frente a isso, apesar dos sistemas peritos continuarem representando fontes de autoridade, o caráter mutável e muitas vezes controverso do conhecimento tecnocientífico encontra-se exposto ao público e, portanto, sujeito a um ceticismo generalizado por parte dos leigos.

Um conceito utilizado por Giddens e por Beck é o de reflexividade. Em Beck, reflexividade se refere à idéia de que na segunda modernidade estaríamos sofrendo os “reflexos” dos riscos desenvolvidos desde a primeira modernidade pela tecnociência – uma radicalização da modernidade. Já para Giddens, “a reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre estas próprias práticas, alterando assim constitutivamente seu caráter” (1991, p. 45).

Além destes dois autores, também discutimos – embora brevemente – algumas ideias de Mary Douglas. A antropóloga inglesa foi uma das pioneiras nos estudos sobre riscos nas Ciências Sociais e uma das primeiras a criticar as análises técnicas sobre riscos. Em sua obra, destaca-se a ênfase no caráter cultural das definições de risco. A autora indica que muitas vezes as pessoas abrem mão de um risco por outro, pois consideram certos riscos enquanto prioritários dependendo da percepção cultural a seu respeito. Isto pode ser resumido na proposta de substituir a clássica questão em análises de riscos “how safe is safe enough?” (subtítulo de nossa aula) por “how safe is safe enough for this particular culture?”.

P.S.: Aproveito para enviar também alguns textos complementares, no caso, os artigos de Guivant comentados em sala e também um de Beck.

Beck, Ulrich. Vivir em la sociedade del riesgo mundial. Living in the World Risk Society. Barcelona: Fundació CIDOB, 2007.

Guivant, Julia S. A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profecia. In: Estudos Sociedade e Agricultura. n. 16, 2001, pp. 95-112.

Guivant, Julia S. A trajetória das análises de risco: da periferia ao centro da teoria social. In: BIB - Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais. v.46, 1998, pp. 3 - 38.

Por Rafael Matos

O dicionário Aurélio define a palavra risco como “perigo mais que possível, do que provável”. Já Luft a define como “perigo muito provável, iminente”. Definições tradicionais e que não mudam, mesmo com os recursos mais modernos que permitem a publicação de dicionários abertos a contribuições, como o Wikcionário, onde o substantivo risco é assim definido: “possibilidade dum acontecimento futuro incerto; perigo”. Ou seja os próprios recursos de web 2.0, expressados nas páginas Wiki (termo que significa a construção de conteúdos colaborativos), que podem ou não ser confiáveis, são um exemplo do “perigo possível” de publicação de informações, já que podem, ou não, ser incompatíveis com os termos a que se referem.

E é sobre esta percepção dos riscos, descobertas, aceitação, conhecimento, entre outras questões, que os textos estudados na Sessão 10 trouxeram argumentos para um debate sociológico. Ulrick Beck relata que o desenvolvimento da humanidade exigiu a produção de riscos. A ampliação do conhecimento tecnológico e científico também contribuiu para o estudo dos riscos e a percepção deles. Da mesma forma que a ciência teve e tem papel decisivo para o controle dos riscos e a descoberta de soluções.

A partir dos escritos de Beck também se discutiu que as pessoas abrem mão da segurança para ganhar alguma coisa. O conforto dos tempos modernos é acompanhado por riscos, mas como define o significado da palavra “são perigos possíveis, mas incertos”. Esta situação ficou exemplificada na fala de Manoel Avellaneda sobre uma comunidade na Índia, que queria a permanência de uma fábrica poluidora, já que ela também proporcionava mesa farta aos seus empregados.

No texto de Anthony Giddens são apresentados argumentos sobre as consequências da modernidade, que tem relação com a deterioração do meio ambiente e também da sociedade tradicional. Novamente aqui, surge a relação entre o conhecimento/informação e sobre o que isto representa, destacando-se o sentido da ação e a responsabilidade que têm os peritos e os leigos para minimizar os riscos.
Edson Jacinski fez uma relação com os riscos sociais e que ao sair de casa, o cidadão está sujeito também aos riscos da violência, que são 'mais possíveis do que prováveis'.

Pelas observações e discussões do grupo ficou a certeza de que a aceitação dos riscos, a busca de soluções e a evolução da modernidade passam pela capacidade que o indivíduo adquire de fazer escolhas. Porém, a redução dos riscos exige uma mudança de atitude. E será que a sociedade atual, cada vez mais individualizada e preocupada com o próprio quintal, está disposta a trocar o conforto do momento, por um futuro improvável, do qual o individuo de agora não fará parte?

Referências
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
LUFT, Celso P. Minidicionário Luft. São Paulo: Ática/Scipione, 7ª Edição.
Wikcionário. Risco. http://pt.wiktionary.org/wiki/risco. Acesso em 2 nov 2010.

Coisas não ditas (durante a sessão 9)

Por Denise Nunes

1)Influências epistemológicas

a)Considero importante lembrar que Bourdieu é um dos autores que elaboraram teorias de síntese, ou seja, para ele as teorias clássicas em suas abordagens macro e micro sociológicas seriam insuficientes para os estudos da sociedade e seria necessário uma abordagem macro E micro de forma simultânea e não isolada, como acontecia nos clássicos. Por este motivo é tão evidente a influência dos autores clássicos em seus escritos.

b)Fica mais claro para alguns leitores a influência de Durkheim nas obras de Bourdieu, o que me parece algo um tanto previsível e legítimo; afinal, ambos eram franceses e naquele contexto a disputa por um lugar ao sol na academia não era (como parece não ser também hoje) nada fácil. Sendo assim, penso que nada mais coerente do que ser assimilado/lembrado junto a um clássico da área para se começar a ter notoriedade. Diria que Bourdieu só estava colocando em prática o que explicou em algum momento da sua teoria.

c)Tentativa de comparação entre os autores Bourdieu e Latour (e suas obras). Quanto a isso, penso que os objetivos (principalmente os iniciais) de ambos eram diferentes. Bourdieu pretendia teorias de síntese (em última instância) e Latour, estudos de caso, além de seu lugar ao sol. Acredito que ambos os trabalhos chamam a atenção do leitor para focos diferentes da pesquisa. Se eles fazem críticas, elogios ou simplesmente “destroem” os trabalhos um do outro, eis a vida acadêmica! Eis o fazer ciência! Nos termos de Bourdieu, podemos dizer que se trata de uma disputa no campo, e nos termos de Latour trata-se de uma “batalha” discursiva (quase) que pelo convencimento. Ok! Simplifiquei quase ao nível do achincalhamento e peço que me perdoem. Mas o que eu quis dizer é que considero ambos os autores e obras incomparáveis no sentido de se tentar uma avaliação (boa ou ruim) e, antes de mais nada, que o debate público a respeito faz com que as “luzes dos holofotes” da academia dirijam-se a eles, e nesse momento, vigora um velho ditado: “quem não é visto não é lembrado”. Dessa forma. ambos passam a ter visibilidade. Mas isso talvez seja apenas mais um de meus pressupostos simplistas...

2)Teorias de síntese

Sobre isso gostaria de lembrar que Bourdieu não foi o único nessa empreitada. Anthony Giddens se deu ao mesmo trabalho (cito apenas ele por ser um dos autores da aula seguinte a de Bourdieu). Ambos falam nas teorias da estruturação, ambos têm conceitos comuns, embora diferentemente enunciados. Em ambas as teorias encontraremos as noções de agentes, estrutura e de reflexividade, por exemplo. É interessante prestar atenção nesses dois modos de fazer teoria e nas diferenças que cada uma apresenta. São autores de contextos diferentes que buscam algo comum: teorias de síntese. Veremos também que cada qual apresenta o peso de um clássico diferente. Assim como mencionamos a presença das idéias de Durkheim em Bourdieu, penso que salta aos olhos a perspectiva hermenêutica de Weber nas idéias de Giddens. Seria legal focar também como os autores percebem o senso comum... Enfim! Lembro que antes de julgar qualquer um dos autores contemporâneos seria legal relembrar as aulas iniciais da disciplina, que tinham seu quê de epistemologia; afinal, as idéias não saem do nada e é sempre bom evitar o tal anacronismo do qual falava Skinner: estes autores escreveram de acordo com determinadas leituras e/ou influências e voltados para seus respectivos contextos. Assim, penso que não nos cabe julgá-los valorativamente ou simplesmente dizer que eles não pensaram na realidade brasileira (ou qualquer outra) dos dias atuais. Creio que “talvez” essa não fosse a intenção deles.