Este blog visa reunir textos e comentários dos alunos da disciplina Sociologia da Ciência e da Técnica, oferecida no segundo semestre de 2010 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSC, sob a coordenação da Profª Tamara Benakouche. A disciplina tem como objetivo analisar a produção da ciência e a inovação tecnológica como elementos centrais para o entendimento da dinâmica social moderna. Nesse sentido, visará o estudo de questões teóricas - colocadas por autores clássicos e contemporâneos - e práticas, postas por processos sócio-políticos mais recentes. Adotando a perspectiva construtivista, procurará desenvolver uma crítica a análises que sustentam a natureza apolítica da pesquisa científica e o determinismo da técnica, resgatando a importância de novas formas de cidadania científica e das redes sociotécnicas.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Relatos da Sessão 12 - 10/11/2010

Relato da Sessão 12: Do saber perito ao saber leigo: a participação pública na ciência

Por Manuela Alvarenga Nascimento

A aula teve inicio com um debate sobre a participação pública na ciência e exemplos de testes que indústrias farmacêuticas realizam em pessoas, estando elas informadas disto ou não. Para ilustrar, foram citados alguns filmes que tratam do tema, como o filme “O jardineiro fiel” que mostra a articulação entre a indústria farmacêutica, governantes e médicos na realização de testes em pessoas doentes na África. Também foi comentado que, apesar de todos os avanços na área médica para alcançar a cura do câncer, as estatísticas demonstram que esta ainda é uma doença que provoca muitas mortes.

Nesta sessão também foram propostas pela professora algumas mudanças nas últimas aulas da disciplina. Foi aberto um espaço para sugestões de tópicos a serem discutidos no próximo encontro, e entre eles pode-se citar: “colonialidade do saber”; informática e cyber cultura; tecnologia e meio ambiente; C&T e gênero; tecnologias do corpo; política de ciência e tecnologia no Brasil. Depois do debate se decidiu que serão tratados dois temas na próxima aula: política nacional de ciência e tecnologia e “colonialidade do saber”.

Na segunda parte da aula se discutiu o texto “Ciência cidadã” de Alan Irwin. Após ler o texto, os alunos consideraram que, segundo o autor, uma recapitulação histórica da participação pública na ciência mostra que esta participação foi entendida como “mostrar” ao público as “conquistas” da ciência, ou seja, seus avanços e descobertas. Assim, se realizam semanas da ciência ou criam-se museus da história da ciência. Foi comentado que há pouco interesse do público em torno da ciência, dada a sua complexidade. Um reflexo disto é que, na televisão, os horários abertos para programas de assuntos científicos são momentos em que há baixa audiência, como o sábado ou domingo de manhã.

Também foi mencionado que o público precisa ser esclarecido para entender as informações dadas. Entretanto, esclarecer não significa torná-lo crítico. A “alfabetização científica” é geralmente usada para que a ciência seja conhecida e apoiada. Em relação a isto, pode-se questionar “de onde vem a informação dada?”, “quem informa?”. Há também certa ansiedade da comunidade cientifica em se abrir ao questionamento público. Nos processos de Consultas Públicas, é importante que os cientistas recebam questionamentos sobre temas que são considerados cientificamente como dados e inquestionáveis. Os conhecimentos tradicionais (indígena, por exemplo) põem em questão os critérios de validação da ciência. As pessoas em geral também têm conhecimentos, ainda que fragmentados. As pessoas “sempre sabem alguma coisa”.

A professora Tamara chama a atenção para o fato de que entre informação e crítica há a possibilidade de manipulação. Podem ser transmitidas, ou usadas, informações equivocadas ou pode-se forçar determinadas posições. As revistas “Superinteressante” ou “Galileu” se destinam a um público especifico que “sustentam” as revistas.

Outro aspecto relevante é que pessoas bem informadas, geralmente, não se mobilizam e inserem as questões na esfera pública. São pessoas que acessam bons canais de informação, são capazes de entender o que está sendo transmitido, mas que não transformam seus conhecimentos em ações que possam contribuir para mudar a realidade problemática. É o que se chama de “disfunção narcotizante da informação”. Por exemplo, há alto índice de câncer no estado de Santa Catarina, mas não se procura saber as causas desses números.

Neste processo de participação na ciência é importante, como já foi dito, que haja uma interação entre cientistas e público, mas deve-se diferenciar quando a negativa de participação pública se trata de resistência e o apelo dos cientistas de defesa de interesses específicos.

Foi mencionado que existem poucos mecanismos de participação na ciência; “ela está blindada”, por exemplo, em questões como construção de usinas, o uso dos transgênicos, o Pré-sal, não se nota um caminho aberto e claro de participação nas discussões e tomada de decisão. A participação não seria viável? O que é participação? Quem é o público? Como se participa?

Foi comentado que já existem algumas vias, como a participação pela internet, ou em conselhos do governo. Ainda estamos no processo de construção da participação (“in the making).

Foi finalmente apresentado o texto de Callon em que ele discute como agir em “A procura de um mundo comum”. Segundo o autor, não há um modelo pronto. Callon trabalha com dois eixos, o da participação na ciência e o da participação na política, propondo que há um ponto de cruzamento entre os dois. O cruzamento desses eixos passa, também, pela construção de uma democracia dialógica.

No Brasil há um reduzido campo de discussão aberto sobre a participação na ciência. Foram mencionados núcleos de estudos sobre esta temática. Entretanto, a professora Tamara insiste que não deveríamos assumir uma postura pessimista frente a isto. Ainda não está claro o COMO participar, mas isto não significa que não possa haver vias participativas. Citando Callon, Tamara diz “é importante considerar as possibilidades que oferecem potencialidades de diálogo entre o público e o cientista”, (Callon, p. 60)

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